quinta-feira, 7 de maio de 2015

formula mágica da paz (2)

Sou da geração Y, a tal geração do milênio. Até outro dia mesmo, isso era bom. Cresci ouvindo que eu era especial, não só de meus pais, mas também de muitas outras pessoas que as vezes nem me conheciam direito. Sei também que não fui o único que cresceu assim, ouvindo isso semana a semana e por vezes acreditando que era verdade.
Hoje, tudo vai ficando mais claro e das piores maneiras possíveis. Éramos todos especiais a nossa maneira e não tinha nem como não sermos, afinal, somos de uma geração que nasceu antenada, cercada por uma globalização cada vez mais intensa culturalmente, vendo explodir diversas coisas novas em nossa frente, todas com uma velocidade impressionante. Com a ajuda da popularização da da internet, que intensificou este turbilhão de coisas diferentes, fomos induzidos a acreditar que todos éramos pretensiosamente interessantes e no fim, caímos na real de uma vida sem sentido cercada por questões filosóficas retóricas na era da pós verdade. 
De vez em quando surge uma matéria em algum jornal, revista ou site que diz "pesquisa revela que vida adulta começa aos 25 anos" e que me soa apenas como uma tentativa (frustrada) de consertar todo o erro dos pais da nossa geração, mas contraditoriamente, indo pelo mesmo caminho deles por justificar nosso amadurecimento tardio em comparação a outras épocas.
Nossas avós se casavam antes dos 18 e nossos avôs trabalhavam desde os 12 em lavouras ou coisas do tipo. Nossos pais precisavam namorar só de mãozinhas dadas um bom tempo até consumarem o fato e partirem para um relacionamento sério. Era um amadurecimento forçado, mas era um amadurecimento. Hoje entramos na faculdade aos 18 sem ter a mínima noção de carreiras profissionais, a não ser que tenhamos pais atuantes em carreiras que sejam atrativas. Saímos da faculdade com 22, 23 anos, atingindo o ápice da promiscuidade e da presunção por sermos tão novos e ter um grau de bacharelado que nos faz sentir como se fôssemos "o especialista" sobre qualquer assunto mesmo que não seja relacionado ao que estudamos, isso quando estudamos, não levando com a barriga semestre a semestre só em busca do tão famigerado canudo que no fim das contas, pouco representa.
Infelizmente percebemos tudo isso da pior maneira possível. Somos filhos de uma geração protecionista que cresceu ouvindo histórias sobre imigração de refugiados, guerras mundiais reais e entrou na vida adulta na época da ditadura, com um terço da nossa liberdade, cercados por teorias da conspiração e afins e por incrível que pareça, prestes agora a vivenciarem tudo isso novamente, com o adicional da comunicação em tempo real via redes sociais.
O lado bom disso tudo talvez seja que possuímos consciência de tudo que nos aflige e isso na teoria torna natural a nós querer ou ao menos tentar passar um futuro diferente para os nossos filhos.
Eu sou do fim da geração Y e vejo exemplos dessa consciência criada em preparar melhor nossos filhos através do que vivenciamos. Valores reais e sustentáveis. A geração seguinte, que está agora entrando na faculdade, se formando e iniciando sua vida profissional, conhecidos como a geração Z, tem  a sorte de não crescer com o glamour que foi colocado sob os millenials, pois já nasceram no meio da turbilhão da globalização e lidam sim muito melhor com os desafios da vida por terem pais que chegaram as conclusões como as que aqui cheguei e principalmente por crescerem ouvindo destes sobre suas frustrações, como as por mim aqui descritas e assim, aprendem a enxergar a vida com uma visão um pouco menos utópica. Assim, começam a desenvolver sua própria personalidade individualmente e consequentemente mais rápido.
Usar a primeira pessoa do plural na maior parte deste texto talvez tenha sido um artifício inconsciente pra me sentir melhor. Talvez pra tentar me dizer mesmo que não fui o único a tomar decisões equivocadas até aqui...

Este texto começou a ser escrito em 07/05/2015 e passou por revisão em 04/02/2020. Infelizmente e tornando maior a esperança nas gerações seguintes a minha, um dos trechos incluídos foi este: "...e por incrível que pareça, prestes agora a vivenciarem tudo isso novamente, com o adicional da comunicação em tempo real via redes sociais." Tenso.


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